segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Futuro ao Útero Pertence


Mãe e filha conversam num fim de tarde de setembro de 2047, sobre como a geração da vovó finalmente conquistou o mundo.
  - Foi simplesmente perfeito, filha... Tudo planejado meticulosamente, para que o efeito surpresa fosse completo. O primeiro movimento foi exigir a igualdade entre os sexos. Os homens, mais preocupados com futebol do que outra coisa, nem se importaram. Concordaram conosco sem largar o controle remoto da TV.
  Então lentamente começamos a invasão, o segundo movimento foi a tomada gradual dos quadros de alto escalão: Diretorias Financeiras, Recursos Humanos (aqueles testes que inventamos eram divertidíssimos), Divisões de Pesquisa, etc...
Porém, a grande sacada foi quando a sua avó teve a idéia de tomarmos conta das agências de publicidade.
 - Mas porque isso mãe?
 - É simples lindinha,  passamos a utilizar toda a linguagem a nosso favor. "Piriguete",  por exemplo, era a senha que identificava as comandantes de cada “Estria”.
 - O que é estria mãe???
 - Nossa, faz tanto tempo! Eu era menor que você nessa época. Sua avó não parava em casa e... O que você perguntou mesmo meu amor?
- Estriiiiias mãe!! Ai...
- Ah claro!! As estrias eram as células independentes que formavam o nosso... o nosso... partido vai. Ah!!! Lembrei de uma coisa divertidíssima! Naquela época nós chamávamos os maridos de “Calorias”
  - Mas eles não percebiam nada? Impossível mãe!!!
  - Magiiiiina!! Se você acha os homens de hoje uns tontos, os daquela época eram piores ainda. Só se preocupavam em contar piadas escatológicas, ficar batendo um no outro e em não falar palavrão na nossa frente!!!   Essas coisas de homem.
  - Mas quando foi que as mulheres tomaram conta?!? Foi nessa época?
  - Um pouquinho depois. Nós já tínhamos tomado conta de alguns Países como Brasil, Argentina e Alemanha quando finalmente nossa amada líder decidiu sair da TV para entrar para a história.
 - Opraaaaaaaaah!!!!
- Isso mesmo meu amor!!! Muito bem!! Depois que os homens estavam totalmente desesperados e endividados por conta desses neurônios a mais que eles tem e não sabem usar, a nossa amada líder saldou todas as dívidas dos bancos e a partir daí dominamos o dinheiro do mundo todo!!
- Mas da onde ela tirou esse dinheiro?
- Nós tínhamos uma rede de arrecadação gigante! E pra não dar na vista, mascaramos as contribuições com um monte de revistas de celebridades e sites de fofoca. Aí para derrubar o Presidente foi fácil.
- Qual era o nome dele mesmo? 
- É o Marido da 1a. Ministra Michele!!! Tinha um nome africano acho, mas esqueci... Desculpe,  filha, já faz tanto tempo...
  - Tudo bem, mãe. Deixa pra lá. O que mais? Continua.
  - Depois que tomamos a Casa Branca pintamos ela de cor-de-rosa.
  Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então assumimos o poder no resto do planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a  Copa do Mundo, sabia?
Dia de desfile de moda não era feriado.
Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Lady Gaga para Queen Gaga...
  - Noooooossa, conta mais...
  - Aí o resto você já estudou na escola. Inventaram o trocador de pneu de carro, o abridor de latas de conserva... A Lei do  Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do  trabalho...
E, é claro, nossa semana de TPM, uma vez por  mês...
  - TPM ???
  - Sim, TPM... A Temporada de Porrada nos Maridos... É quando podemos implicar com todas essas bobagens que os homens fazem e ridicularizar ainda mais essa falta de atenção crônica que esses pobres infelizes insistem em ter... Falando nisso... Hoje não é segunda?
  - É sim mãe! Porque?
  - Meniiiiiina como é que eu me esqueci!!!
Nesse momento a mãe solta um grito agudíssimo, de fazer inveja a Tetê Espindola, seguido de um prato se espatifando na parede.
- Antoniooooo!!! Quantas vezes eu já disse que eu quero gema mole!!!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

História rápida que é...

Finalmente depois de muitas reuinões da comissão, provas de beca e vestido, escolha do local e muito dinheiro gasto, chega o baile de formatura. Noite agitada, muita música e muita gente. Nesse cenário duas amigas se encontram na porta do banheiro.

Mas que noite! Esse vestido é desconfortável pra caramba! A comida tá horrivel, o meu par é um babaca e pra piorar eu detesto essa banda cafona!
–  Então porque você não ficou em casa?
–  Tá maluca miga!?!? Essa é a minha formatura!!! É a noite mais feliz da minha vida

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Bem Dito Ensina

No começo da semana passada a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República enviou um ofício ao Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (Conar) pedindo a suspensão da atual campanha de lingeries da Hope. Intitulada "HOPE Ensina", a propaganda mostra a modelo Gisele Bündchen "ensinando" as mulheres como se livrar de situações adversas, utilizando o seu charme aliado ao consumo do produto anunciado. O que pegou nessa questão foi que as situações apresentadas na campanha acabaram colocando a mulher dentro de clichês não muito agradáveis, como o de consumista descontrolada, má motorista e por aí vai.
Demorei um pouco para fazer esse post, pra poder reunir um pouco melhor as idéias e trazer um parecer mais bem acabado, tanto como feminista quanto publicitário.
O primeiro grande ponto da discussão tem a ver com o momento que vivemos no país, onde qualquer coisa é tremendamente ofensiva e todos levam tudo muito a sério, portanto até uma propaganda de calcinha vira um assunto importantíssimo para um órgão presidencial.


Gisele Bündchen estrela comercial da Hope por claudetinha0202 no Videolog.tv.

Agora, um detalhe a ser considerado, e que tem muita gente opinando por aí sem parar pra pensar nisso, é que uma campanha publicitaria de âmbito nacional e estrelada por uma das modelos mais bem pagas do mundo, não é uma bagunça. Muito dinheiro e muitos profissionais são envolvidos nesse processo, inclusive institutos de pesquisa que analisam o comportamento e os hábitos do público a que se destina as peças publicitárias, quer dizer, não foi um publicitário fã do Jece Valadão que, numa madrugada insone, se aproveitou da campanha para disseminar seus ideais machistas e reacionários e nem a Hope é uma fabricante de roupas íntimas nefasta que quer todas as mulheres sejam oprimidas.


Blue Bus Gisele Hope por claudetinha0202 no Videolog.tv.

Por incrível que pareça, não é um grande espanto ver as mulheres retratadas dessa forma. É só ter um pouco de atenção e olhar a volta. Revistas destnadas ao público femino ensinam como "segurar o seu amor" com o melhor sexo que ele jamais viu, nada contra as pessoas se libertarem sexualmente, mas a abordagem está errada. Observando o comportamento individual de determinados grupos femininos, encontramos um bom número de meninas que acham "bonitinho" não saber absolutamente nada sobre qualquer assunto, que se desculpam por um absurdo que fazem ou dizem colocando a culpa na cor do cabelo e que ocupam Terabytes na internet falando sobre os produtos de beleza mais supérfulos do mundo. As mulheres tem muito mais conteúdo que isso. Você sabe. Eu sei. Muitos homens, assim como eu, também não se preocupam somente com cerveja, carros e futebol, mas já viram quantas propagandas assistimos falando disso? 


Gisele Bündchen - HOPE Ensina por claudetinha0202 no Videolog.tv.

Feita essa análise, fica claro que uma campanha publicitária não passa de um reflexo daquilo que encontramos na sociedade, e a partir desse ponto dá pra concluir que a propaganda é parte integrante de um cenário problemático muito maior e que essa ação da SPM em proibir a veiculação da campanha da Hope, não passa de enxugação de gelo. Questões complexas exigem soluções complexas. Não adianta o governo, ou o conselho de autoregulamentação publicitária mascararem um sintoma se a doença continua por todos os cantos. O que as mulheres precisam para não serem retratadas dessa forma é semeando valores mais fortes, aumentando a discussão do tema e utilizar e multiplicar espaçoes como este para que mais gente se entenda, se conheça e se respeite. De verdade.

domingo, 2 de outubro de 2011

Três Dicas Bem legais

Esse post é bem curto. Na verdade ele náo é um post propriamente dito, são três portas, três direções, três dicas bem legais, para você encontrar um pouco mais de conteúdo nesse deserto de inovações em que estamos vivendo ultimamente.
A Primeira dica é de um video muito legal que eu recebi da minha amiga Debora M. Valente:
A Segunda dica é o próprio livro citado no video, nada melhor do que saber como nascem boas idéias e de que maneira estimulá-las para que possamos deixar o mundo em que vivemos um pouco menos careta e com mais gente inteligente e boa de papo:  http://bit.ly/qqqHPA
E a Terceira dica, tem tudo a ver com as outras duas. São os blogs de pessoas com idéias muito boas, nem um pouco caretas, muito inteligentes e com um papo ótimo. São eles:
• Amenidades Crônicas (Maykon Souza): http://amenidadescronicas.blogspot.com
• Caroline Prado: http://carolineprado.wordpress.com
• Davi Ribeiro: http://www.daviribeiro.com
• Imagem&Letra (Debora M. Valente): http://imagemeletra.wordpress.com
• Estante Caótica (Roberto Feliciano): http://caoticaestante.wordpress.com

Afinal, misturar suas idéias com as que você encontra todos os dias, como as que você vai encontrar neste blog e nos citados acima, é a força motriz dos cérebros inquietos e invadores. E nunca foi tão necessário essa inquietude. Vamos em frente.

domingo, 25 de setembro de 2011

Quem é ela?

Ela acorda... tarde. Não sabe direito se foi por causa do barulho que essa empregada nova insiste em fazer perto do seu quarto ou se pelos latidos de Nahomy, sua cadelinha Shih Tzu. Se foi a Nahomy tudo bem, ela é muito linda e com certeza só quer um carinho ou brincar um pouco. Joga o brinquedinho para a cachorra e vai direto pra cozinha, tomara que a empregada tenha lembrado de comprar sua torrada integral, ela detesta ter que comer biscoito no café da manhã. Ufa... ela lembrou, ainda bem, ter um ataque histérico logo depois de acordar faz mal pra beleza.
Depois de um longo banho, usando um sabonete pra cada parte do corpo e um bom tempo cuidando dos cabelos, ela vai para o quarto exalando seu perfume preferido. Com Nahomy no colo liga seu Macbook e entra na internet. Horas se passam sem que ela se dê conta, tudo muito interessante: nas redes sociais longos papos com as amigas, lê muito sobre a nova coleção de esmaltes Disco Ball da Impala e Juicy Coral do Boticário, "twitta" uma frase do Fernando Pessoa pra dar aquela cutucadinha nas invejosas de plantão e por fim dá uma olhadinha nos e-mails. Anda doida por um tablet, não tem muita idéia da diferença dele pro seu Macbook além de achar lindo, também não tem coragem de pedir um pro pai. Afinal, não dá pra usar um desses na rua sem ficar morrendo de medo, aqui não é primeiro mundo.
Bem, agora é hora de se produzir, afinal hoje é quinta-feira, dia de baladinha com as amigas. No armário, aquela decepção, um monte de roupas que ela já usou mais de duas vezes. Nessas horas ela sonha com aquele closet que viu no cinema onde as roupas iam passando ao comando de um controle remoto, mas a realidade é dura, vai ter que usar a criatividade pra ter um look que as amigas achem o máximo. Outra hora gasta pra combinar a blusa certa com a saia ideal e chega a hora de sair, vai com aquela bolsa Bryony da Guess, mesmo sabendo que muita gente já tem, afinal pra conseguir uma nova vai ter que encher muito a paciência da mãe. Entra no carro e vai pegar as amigas em casa.
Na baladinha o de sempre, aquelas invejosas medindo ela da cabeça aos pés e torcendo o nariz, principalmente aquela horrosa  de cabelo ruim que dava em cima do seu ex. Alguns meninos chegam sorrindo e falando bobagens no seu ouvido, ela desconversa e sai fora. Não quer saber de ninguém hoje, veio se divertir e causar. Tem um piti com o barman que serviu seu drink errado, isso é que dá querer dar emprego pra essa gente cabeçuda. Tira muitas fotos com as amigas, sempre meio de lado e fazendo biquinho, fica linda nessa pose.
Seu ex passa com um monte de amigos, todos de camisa polo e cabelo espetado, esses meninos são tão bobos. Ela passa do lado com suas amigas da um sorriso e some. Aposta que ele vai ficar procurando por ela na balada toda. Azar o dele, quem mandou não a tratar como ela merece. Agora sofra.
Sai da balada um pouco alta, deixa as amigas em casa ouvindo o de sempre: "Ah só você mesmo!!", "Arrasoooooou!!!", "Isso aê migaaaaa!!" e tudo mais. Chega em casa com os sapatos na mão pra não tropeçar e nem acordar os pais, entra no banheiro e começa a tirar a maquiagem e lembra das gargalhadas que deu nos últimos 90 minutos. Olha no espelho e pensa o quanto se detesta de cara lavada, joga as roupas no chão do quarto e vai pra cama lembrando de uma conversa que ouviu depois de rir de umas meninas meio esquisitas andando na rua, quando no sinal: "Quem é essa menina?" "Ah, só mais uma imbecil!". Nossa como tem gente invejosa nesse mundo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Homenagem

Hoje é um dia muito especial. Neste mesmo dia há 5 anos, partia pra sempre a pessoa que mais me ensinou sobre a vida, o universo e tudo mais. Um câncer de pâncreas tirou do meu convívio Ezilda Muniz Montenegro de Sales, 54 anos, minha mãe.
Ao contrário do que a maioria das pessoas que relembram a perda de uma pessoa tão querida e importante esse post não tem nada de tristeza ou melancolia, afinal são apenas coisas boas que ela deixou para mim e para muitos leitores e colaboradores deste blog.
Graças a sua eterna rebeldia e juventude, cresci um garoto diferente, um garoto eternamente inconformado com as desigualdades de etnia, sociais e de gênero, um menino que lia livros antes até de saber ler. Eu explico. Nossa homenageada do post comprava pra este blogueiro uma série de livros infantis que vinham com uma versão menor e com apenas as figuras em anexo, para que o pequeno hiperativo acompanhasse a história no seu próprio livrinho enquanto a paciente mamãe lia o conto.
É por causa do seu infidável feminismo, tanto teórico quanto prático que as idéias e os princípios deste blog fazem parte da minha vida desde a mais tenra idade.
Eu poderia listar uma infinidade de bons momentos e lembranças dessa mulher incrível que faz tanta falta. Mas eu prefiro fazer uma coisa mais interessante. Aqui embaixo vai uma "playlist" com a trilha sonora que fazia parte das faxinas de sábado que ela fazia em casa e eu, menininho hipertativo de sempre, vivia atrás dela tentando ajudar de qualquer forma, seja ajeitando uma cadeira ou passando um paninho no vitrô da cozinha.


Double - The Captain Of Her Heart


Asia - Heat of the Moment


Desireless - Voyage Voyage 


Alice Cooper - Schools Out (seu preferido)


Os Paralamas do Sucesso Ska, Vital e Sua Moto e Química


TITÃS - AA UU (nada como um refrão só de vogais pra fazer uma criança sair gritando pela sala)


Camisa de Vênus - Simca Chambord


Caetano Veloso, Gal Costa e Milton Nascimento - Paula & Bebeto


Jorge Ben - A banda do Zé Pretinho


Obrigado por tudo Dona Ezilda! Há 30 anos você me deu a vida me colocando nesse mundo tão caótico e inconstante. E me fez nascer novamente 5 anos atrás com a sua partida, assim como da primeira vez eu chorei demais no começo, mas as alegrias que a vida reservou compensaram cada lágrima.
Essa é a minha singela homenagem a grande musa inspiradora desse blog. E como ela sempre se despedia: " Ademã! Que eu vou de leve!"

domingo, 26 de junho de 2011

Julia Roberts e Eu

Ele era o carinha mais bonito da escola, a gente se encontrou anos depois da formatura numa festinha em Santos. Ele me convidou pra assistir um filme: pipoca, mãos dadas, aquela coisa toda. “Você vai adorar o filme, é super romântico, eu lembrei de você”, ele disse, munido do VHS de Uma linda mulher, o filme que fincou o pé da Julia Roberts no estrelato na pele de uma prostituta carismática.
Não, não foi o fato de ele ter me comparado a uma prostituta que me incomodou. Foi tampouco o fato de ter escolhido um filme hollywoodiano sessão-da-tarde que atentou contra meu paladar burguês de posto 4. Foi o fato de o sujeito ter achado super romântico, um conto-de-fadas moderno, a verdadeira “reforma” a que se submete a serelepe Vivian Ward. Pra quem não lembra (ou finge que tinha cinco anos na época), “Uma linda mulher” - Pretty woman, no gringo - foi um hit dos anos noventa e que marcou para sempre o gênero de comédias românticas. Pra começar, é considerado o mais bem sucedido da categoria, tendo embolsado algo na casa dos 450 milhões de dólares. Também foi um sucesso de crítica e rendeu à Julia Roberts o Globo de Ouro e indicação ao Oscar.
Originalmente criado pra ser um dramão sobre prostituição em Nova Iorque, o filme mudou a direção comercial para inaugurar uma longa franquia de comédias românticas de moral duvidosa produzidos em Hollywood. Vivian é retratada quase que com uma certa dose de liberdade, ao contrário do homem que parece estar preso às amarras sociais e econômicas da classe dos nouveau riche. Por isso, ao encontrar Edward (Richard Gere, no papel convincente de homem-de-negócios boçal) ele precisará treinar Vivian no mundo do bem-bom, não para fazer com que a gata borralheira de torne princesa – mas pra que ela queira tornar-se uma. O filme parece inovador porque a fórmula do ‘amor que não se pode comprar’ é óbvia demais, aqui Edward pode sim comprar tudo, já comprou o sexo da mulher, a roupa, até a própria mulher. Ela é uma mercadoria, concretamente, e que por isso oferece pouca nuance além do seu valor de troca. O que Edward parece não conseguir adquirir é o desejo (lembra aquele clichêzinho que o povo adora, que ela dá pro cara mas não beija na boca?). Então o filme vira uma caça do homem rico entediado ao algo-mais da mulher-mercadoria, do desejo dela e tudo o mais que é desafio. Um dia ele consegue, mas eis que a mercadoria sai melhor do que a encomenda: colocada como uma mobília num apartamento que ele arrumou pros encontros exclusivos, a mulher desabafa: “esse não é o conto-de-fadas que eu quero”.
O fato de “Uma linda mulher” ser um filme para mulheres me intriga. A primeira vez que eu ouvi o termo gringo chick flick, com referência aos filmes destinados à audiência feminina, fiquei irritada. Quem fez o comentário não entendeu minha objeção: era claro pra mim, e não tão claro pra ele, que essa coisa de filme pra garotas era usado em detrimento das próprias garotas. Ele achava que os filmes destinados às mulheres – ou chicks – fazia referência ao que de fato parecia não só agradar, mas constituir o não tão obscuro objeto de desejo feminino: sapatos, homens canalhas (ultimamente interpretados pelo Hugh Grant), bolsa de marca, carrões, salão de beleza etc. Então por que algo que soava tão libertário, a afirmação de uma suposta identidade chick, parecia um atestado de submissão desse gênero às mazelas não mais do homem, ok, mas mais ainda às do capital?
 Não é que eu esteja esculhambando as comédias românticas, como se “Velozes e Furiosos” fizesse honra à genialidade e desfaçatez intelectual do macho. Eu consigo, no entanto, entender que uma dose cavalar de testosterona bruta e/ou comédia pastelão de profundo mau-gosto possa causar o famoso efeito feel-good nos machos que assistem aos seus macho-flicks. Agora, o que é que tem no “sim, fulano, você é um perfeito filho-da-p*, bêbado, workaholic, mulherengo, acha que eu tô gorda, me trata mal, não gosta da minha família, não entende de arte, é bruto, sexista e  provavelmente sexualmente inapto... MAS EU TE AMO” que causa qualquer feel goodzinho que seja nas mulheres?

Mas causa, pelo menos a “evolução” desses filmes mostra isso. Diferente do sucesso dessas pérolas, meu encontro com o carinha – e com a Julia Roberts – não evoluiu tão bem. Não é esse o conto-de-fadas feminista-liberal que eu quero. Se é que eu quero um.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Mundo de Heloísa

Um dos passatempos recorrentes aqui de casa tem sido assistir a reprise de Anos Rebeldes, no canal Viva. Essa obra do Gilberto Braga, grande inspiração pros "caras pintadas" em 92, retrata a juventude carioca nos anos da ditadura militar brasileira, e que além de falar do cenário político da época, também retrata as mudanças sociais que aconteciam, tanto no Brasil como em todo o mundo, durante essa época.
Uma dessas transformações sociais e ideológicas mais importantes foi, o que os estudiosos chamam de “a segunda onda do feminismo”, isto é, um desdobramento dos ideais das primeiras sufragistas (feministas que lutaram pelo direito de voto no início do século XX) para temas como trabalho, liberação sexual, igualdade, respeito... São exatamente essas idéias que pautam o discurso da Heloísa, personagem de Cláudia Abreu na trama.
As mudanças de comportamento e postura, que as feministas da época exigiam, vão se materializando na história juntamente com o crescimento e amadurecimento da personagem, a medida que Heloísa vai se deparando com os acontecimentos da época e com os típicos confrontos que uma jovem se depara ao atingir a maioridade, não só seus diálogos mas também seu figurino, postura e principalmente os cabelos, vão retratando essa nova mulher dos anos 60 e início dos 70.
E foi de frente para todo esse mundo de idéias de democratização do prazer, desmascara-mento da hipocrisia, fim do império da canalhice e da “legítima defesa da honra”, que todo o meu olhar, e felizmente o de muitos da minha geração, foi formado.
Porém, tudo isso que parece tão natural, muitas vezes até ingênuo, por todos esses habitantes do “Mundo de Heloísa” (ao qual me incluo), parece que se perdeu em algum lugar entre o fim do mundo e o fim do mês e de repente ninguém mais quer saber de liberdade ou independência. Os dias vão se passando e vemos, pessoas cada vez mais jovens, vociferando contra liberdade sexual, aborto... gente pregando abstinência como método de prevenção das DSTs, idealizando maridos provedores e esposas submissas.
É claro que estranhar o comportamento da juventude, achar que a sua geração entende mais da vida do que as que estão chegando, é muito natural quando se vai aumentando o número de velinhas no bolo de aniversário, mas isso é um pouco mais do que um conflito de gerações, é um grito de alerta, para que as pessoas fiquem realmente livres dessas idéias do tempo da vovó.
Tudo isso nos coloca um tremendo dilema pela frente: Porque essa juventude está tão careta? Quem foi que colocou esse desvio no trem da história?  Em que trecho da estrada engataram a marcha ré?  Pois é... eu também não sei. Mas acho que conversando, debatendo e discordando nós podemos iluminar mais essa questão. Os comentários ficam aqui em baixo. Agora é com vocês.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um Espaço feminino...

 Eu e o Diogo conversamos muito. Sobre todos os assuntos. Desde assuntos banais a assuntos filosófico-existenciais. Durante nosso tempo de convivência, percebemos que os assuntos mais presentes em nossos devaneios dizem respeito às mulheres! Sim, mulheres. Explico. Pelo fato de termos “mães modernas” (eu, criada por uma “anarquista na prática” e ele por uma feminista na teoria e prática) temos opiniões, por vezes, controversas sobre o “universo feminino”. 
     A idéia do blog surgiu, pelo menos na minha cabeça, após o episódio Geisy Arruda, lembram? A tal moça que saiu escoltada da faculdade onde estudava, sob gritos e ameaças de vários alunos, pelo fato de usar uma roupa inadequada(?). Talvez o maior caso de bullyng já acontecido e registrado por aqui. Um aspecto importante nesta história me chamou atenção: havia muitas meninas no embalo da turba. Meninas na faixa dos seus 20 e poucos anos gritando a plenos pulmões: “vagabunda”, “piranha”.  Por mais que o comportamento seja motivado pelo “grupo”, pela “histeria coletiva” , “espirito tribal” ou “só por farra mesmo”, ver essas meninas tentando levar a herege pra fogueira causou um tremendo desconforto.
E o que fazer com tal desconforto? Falar alivia um bocado. Compartilhar idéias é a melhor forma de aquietá-las ou gerar desconforto alheio. Então... por quê não? 
Não mudaremos absolutamente nada ao nosso redor. Sou pessimista. Sinto um retrocesso no ar: mulheres com atitudes tão ou mais machistas que muitos homens.  Bem, o mundo já foi um lugar muito pior, principalmente pra nós mulheres.  Houve mudanças, conquista de alguns direitos, mas... ainda somos o “elenco de apoio” da história. Culpa nossa? Não sei.
Amigas e amigos: esse espaço é nosso. Escrevam, teorizem, opinem, discordem, tirem “sarro”, me xinguem, xinguem o Diogo... não tem problema! Liberdade total neste mundo insuportavelmente politicamente correto.
Podem começar!

Ps: Eu não teria coragem de usar um vestido curto e rosa-choque na Faculdade. Sentiria vergonha, afinal... o que pensariam ou falariam de  mim... ops, machismo detected??