segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Mundo de Heloísa

Um dos passatempos recorrentes aqui de casa tem sido assistir a reprise de Anos Rebeldes, no canal Viva. Essa obra do Gilberto Braga, grande inspiração pros "caras pintadas" em 92, retrata a juventude carioca nos anos da ditadura militar brasileira, e que além de falar do cenário político da época, também retrata as mudanças sociais que aconteciam, tanto no Brasil como em todo o mundo, durante essa época.
Uma dessas transformações sociais e ideológicas mais importantes foi, o que os estudiosos chamam de “a segunda onda do feminismo”, isto é, um desdobramento dos ideais das primeiras sufragistas (feministas que lutaram pelo direito de voto no início do século XX) para temas como trabalho, liberação sexual, igualdade, respeito... São exatamente essas idéias que pautam o discurso da Heloísa, personagem de Cláudia Abreu na trama.
As mudanças de comportamento e postura, que as feministas da época exigiam, vão se materializando na história juntamente com o crescimento e amadurecimento da personagem, a medida que Heloísa vai se deparando com os acontecimentos da época e com os típicos confrontos que uma jovem se depara ao atingir a maioridade, não só seus diálogos mas também seu figurino, postura e principalmente os cabelos, vão retratando essa nova mulher dos anos 60 e início dos 70.
E foi de frente para todo esse mundo de idéias de democratização do prazer, desmascara-mento da hipocrisia, fim do império da canalhice e da “legítima defesa da honra”, que todo o meu olhar, e felizmente o de muitos da minha geração, foi formado.
Porém, tudo isso que parece tão natural, muitas vezes até ingênuo, por todos esses habitantes do “Mundo de Heloísa” (ao qual me incluo), parece que se perdeu em algum lugar entre o fim do mundo e o fim do mês e de repente ninguém mais quer saber de liberdade ou independência. Os dias vão se passando e vemos, pessoas cada vez mais jovens, vociferando contra liberdade sexual, aborto... gente pregando abstinência como método de prevenção das DSTs, idealizando maridos provedores e esposas submissas.
É claro que estranhar o comportamento da juventude, achar que a sua geração entende mais da vida do que as que estão chegando, é muito natural quando se vai aumentando o número de velinhas no bolo de aniversário, mas isso é um pouco mais do que um conflito de gerações, é um grito de alerta, para que as pessoas fiquem realmente livres dessas idéias do tempo da vovó.
Tudo isso nos coloca um tremendo dilema pela frente: Porque essa juventude está tão careta? Quem foi que colocou esse desvio no trem da história?  Em que trecho da estrada engataram a marcha ré?  Pois é... eu também não sei. Mas acho que conversando, debatendo e discordando nós podemos iluminar mais essa questão. Os comentários ficam aqui em baixo. Agora é com vocês.

2 comentários:

Maykon disse...

Quem defende essa visão retrógrada e careta o faz com total ausência de argumentos. São defesas parecidas com pastel de feira: parecem até que tem alguma coisa, mas são vazias... pseudointeligentes. Infelizmente, esse efeito 'pastel de vento' está se proliferando. São pessoas bem sucedidas, mas que nunca leram um livro. Sabem concordar verbo com sujeito graças às leituras semanais de Veja e, com isso, não conhecem os revezes da história. Só entendem o mundo em cifras. Seriam ótimos garotos-propaganda para um comercial que terminasse com o slogan: "venha para o mundo de Bolsonaro!"

Fer Pinto disse...

O que também está presente no mundo da Heloísa é a utopia, a possibilidade de desafiar a estrutura de produção capitalista, e do capitalismo como ideologia, através da política.
Se era ingênuo, ou se resultou inútil (ou não), acho importante comentar isso pra não corrermos o risco de acreditar que feminismo nasceu 'pelego', ou que é trans-histórico, universal, estático.
A emergência da chamada segunda onda é mediada histórica e socialmente pela articulação com o marxismo e outros fronts ideológicos (como o combate ao racismo e neocolonialismo).
Feminismo nesse sentido não é só o que foi domesticado pra facilitar uma agenda neoliberal sob a fantasia de "igualdade", também é questionar o status quo.
Frente à possibilidade crítica e analítica feminista, já na sua terceira onda, acredito que qualquer 'desvio do trem da história' tenha muito pouca importância...

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