No começo da semana passada a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República enviou um ofício ao Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (Conar) pedindo a suspensão da atual campanha de lingeries da Hope. Intitulada "HOPE Ensina", a propaganda mostra a modelo Gisele Bündchen "ensinando" as mulheres como se livrar de situações adversas, utilizando o seu charme aliado ao consumo do produto anunciado. O que pegou nessa questão foi que as situações apresentadas na campanha acabaram colocando a mulher dentro de clichês não muito agradáveis, como o de consumista descontrolada, má motorista e por aí vai.
Demorei um pouco para fazer esse post, pra poder reunir um pouco melhor as idéias e trazer um parecer mais bem acabado, tanto como feminista quanto publicitário.
O primeiro grande ponto da discussão tem a ver com o momento que vivemos no país, onde qualquer coisa é tremendamente ofensiva e todos levam tudo muito a sério, portanto até uma propaganda de calcinha vira um assunto importantíssimo para um órgão presidencial.
Gisele Bündchen estrela comercial da Hope por claudetinha0202 no Videolog.tv.
Agora, um detalhe a ser considerado, e que tem muita gente opinando por aí sem parar pra pensar nisso, é que uma campanha publicitaria de âmbito nacional e estrelada por uma das modelos mais bem pagas do mundo, não é uma bagunça. Muito dinheiro e muitos profissionais são envolvidos nesse processo, inclusive institutos de pesquisa que analisam o comportamento e os hábitos do público a que se destina as peças publicitárias, quer dizer, não foi um publicitário fã do Jece Valadão que, numa madrugada insone, se aproveitou da campanha para disseminar seus ideais machistas e reacionários e nem a Hope é uma fabricante de roupas íntimas nefasta que quer todas as mulheres sejam oprimidas.
Blue Bus Gisele Hope por claudetinha0202 no Videolog.tv.
Por incrível que pareça, não é um grande espanto ver as mulheres retratadas dessa forma. É só ter um pouco de atenção e olhar a volta. Revistas destnadas ao público femino ensinam como "segurar o seu amor" com o melhor sexo que ele jamais viu, nada contra as pessoas se libertarem sexualmente, mas a abordagem está errada. Observando o comportamento individual de determinados grupos femininos, encontramos um bom número de meninas que acham "bonitinho" não saber absolutamente nada sobre qualquer assunto, que se desculpam por um absurdo que fazem ou dizem colocando a culpa na cor do cabelo e que ocupam Terabytes na internet falando sobre os produtos de beleza mais supérfulos do mundo. As mulheres tem muito mais conteúdo que isso. Você sabe. Eu sei. Muitos homens, assim como eu, também não se preocupam somente com cerveja, carros e futebol, mas já viram quantas propagandas assistimos falando disso?
Gisele Bündchen - HOPE Ensina por claudetinha0202 no Videolog.tv.
Feita essa análise, fica claro que uma campanha publicitária não passa de um reflexo daquilo que encontramos na sociedade, e a partir desse ponto dá pra concluir que a propaganda é parte integrante de um cenário problemático muito maior e que essa ação da SPM em proibir a veiculação da campanha da Hope, não passa de enxugação de gelo. Questões complexas exigem soluções complexas. Não adianta o governo, ou o conselho de autoregulamentação publicitária mascararem um sintoma se a doença continua por todos os cantos. O que as mulheres precisam para não serem retratadas dessa forma é semeando valores mais fortes, aumentando a discussão do tema e utilizar e multiplicar espaçoes como este para que mais gente se entenda, se conheça e se respeite. De verdade.